Informação consta na decisão que ordenou a prisão dos PMs de Goiás e chama a atenção pelas quantias por serem “vultosas e incompatíveis”
Dois policiais militares do estado de Goiás, Marcos Jesus Rodrigues e Almir Tomas de Aquino Moura, que são suspeitos de envolvimento no assassinato de oito pessoas, foram identificados em transações financeiras que totalizam mais de R$ 11 milhões nos últimos quatro anos. Essa informação foi revelada na decisão judicial que resultou na prisão dos PMs e chamou a atenção dos investigadores devido ao caráter “vultoso e incompatível com os rendimentos” da profissão policial.
Durante esse período de quatro anos, Marcos Jesus Rodrigues realizou transações financeiras que somam aproximadamente R$ 6 milhões, enquanto Almir Tomas de Aquino Moura movimentou R$ 5,8 milhões, com notáveis picos no final de 2020 e no início de 2021 e 2022. Ambos estão sendo investigados juntamente com outros oito policiais por sua alegada participação na chamada “Confraria da Morte”, um grupo de militares presos, suspeitos de assassinato de testemunhas durante operações em cidades de Goiás.
Execuções O assassinato do empresário Fábio Alves Escobar Cavalcante, que foi alvo de uma emboscada e morto a tiros em Anápolis, Goiás, desencadeou uma série de pelo menos outras sete mortes em uma aparente tentativa de eliminar testemunhas nas ruas goianas.
Em 2019, o empresário havia feito diversos vídeos e publicações afirmando que estava temeroso devido a ameaças recebidas após denúncias que realizou. As ameaças à vida de Fábio teriam vindo de indivíduos com supostos laços com a Polícia Militar de Goiás (PMGO).
Dois anos depois, em 23 de junho de 2021, Fábio foi morto a tiros em uma emboscada por indivíduos que, fazendo-se passar por compradores de um imóvel, marcaram um encontro com ele usando um celular.
Esse celular, conforme afirmam os policiais, indiretamente resultou nas mortes de outras pessoas. Os investigadores apuraram que, meses antes do assassinato de Fábio, o telefone estava em posse de Bruna Vitória Rabelo Tavares, esposa de um suposto traficante que teria obtido o aparelho como pagamento por uma venda de crack.
Bruna e seu parceiro foram abordados e agredidos por policiais militares enquanto estavam em um motel, e esses policiais confiscaram o telefone. Posteriormente, o verdadeiro proprietário do aparelho reconheceu os PMs envolvidos, incluindo o cabo Glauko Olívio de Oliveira.
Meses depois, Bruna, que estava grávida de sete meses, foi assassinada a tiros por dois homens em uma motocicleta. O esposo dela, novamente, identificou Glauko Olívio como um dos atiradores. No mesmo dia da morte de Bruna, um grupo de policiais militares se envolveu em um suposto confronto a tiros, resultando na morte de Gabriel Santos Vital, Gustavo Lage Santana e Mikael Garcia de Faria, todos amigos de Bruna e seu esposo.
Segundo a decisão que autorizou as prisões da “Confraria da Morte”, os policiais envolvidos no assassinato desses três homens são: Glauko Olivio de Oliveira, Thiago Marcelino Machado, Adriano Azevedo Souza, Wembleyson de Azevedo Lopes, Jhonatan Ribeiro de Araújo e Rodrigo Moraes Leal.
Buscando a suposta testemunha que teria visto os policiais nos crimes, os militares Glauko, Thiago e Wembleyson são acusados de torturar e assassinar Bruno Chendes, Edivaldo Alves da Luz Junior e Daniel Douglas de Oliveira Alves, todos amigos da testemunha, a fim de obter informações sobre o paradeiro dela.
Uso do Celular Antes do assassinato de Fábio Alves, conforme as investigações, o policial Marcos Jesus Rodrigues consultou o CPF da vítima no sistema da Secretaria de Segurança Pública, mas os registros de IP dessa consulta estavam em nome do major da PMGO Almir Tomás de Aquino Moura.
Dias depois, Glauko Olivio de Oliveira providenciou uma conexão de internet na residência do policial militar Erick Pereira da Silva e, usando o número de CPF de Fábio Alves, registrou o chip no celular roubado.
Além disso, de acordo com as investigações, nos três dias em que a linha telefônica ficou ativa, o celular estava localizado nas proximidades da residência do PM Welton da Silva Vieiga, que faleceu em dezembro de 2022.
Welton servia no mesmo batalhão da Polícia Militar onde estão lotados Marcos Jesus Rodrigues e Almir Tomas de Aquino Moura, ambos envolvidos nas investigações do assassinato do empresário goiano.
Operação Tesarac A Polícia Civil de Goiás (PCGO) realizou a prisão temporária de 10 policiais militares de Goiás, conhecidos como a “Confraria da Morte”, suspeitos de planejar vários assassinatos durante operações policiais nas cidades de Anápolis e Terezópolis.
Os PMs presos são:
- Almir Tomás de Aquino Moura – major
- Marcos Jesus Rodrigues – subtenente
- Marco Aurélio Silva Santos – 1º sargento
- Erick Pereira da Silva – 3º sargento
- Glauko Olivio de Oliveira – cabo
- Thiago Marcelino Machado – cabo
- Rodrigo Moraes Leal – soldado
- Adriano Azevedo de Sousa – 2º tenente
- Wembleyson de Azevedo Lopes – soldado
- Johnathan Ribeiro de Araújo – cabo
Além disso, a Operação Tesarac, responsável por investigar os crimes, cumpriu 18 mandados de busca e apreensão em Anápolis, Caldas Novas, Nerópolis, Nova Veneza, Goiânia e Brasília.
A Secretaria de Segurança Pública de Goiás confirmou a prisão dos policiais militares do estado e destacou que “o Comando de Correições e Disciplina da PMGO acompanhou o cumprimento de mandados de prisões temporárias e de busca e apreensão expedidos pela 1ª Vara Criminal da Comarca de Anápolis”.
Os policiais militares foram encaminhados ao presídio militar, onde permanecem à disposição da Justiça.
A Corregedoria da PMGO tomou as medidas legais adequadas. A SSP-GO, em conjunto com todas as forças de segurança, enfatizou que não tolerará desvios de conduta de nenhum tipo.